I CONGRESSO INTERNACIONAL
IV SIMPÓSIO DE ENDODONTIA

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O cimento de Grossman

Fonte: Chicago: American Dental Association / Journal of the American Dental Association: Grossman, L. I. An improved root canal cement. J Am Dent Assoc., v. 56, n. 3, p. 381-5, 1958.

RESUMO

Em 1958, verificando que a prata oxidava, formando sulfetos que manchavam a coroa dos dentes, o Prof. Louis I. Grossman eliminou a prata da composição do pó, propondo uma nova fórmula para o cimento à base de óxido de zinco e eugenol. Quanto à composição do líqüido, ele substituiu a solução de cloreto de zinco a 4% pelo óleo de amêndoas doces. A adição de um óleo vegetal ao cimento teve como objetivo aumentar o seu tempo de presa (endurecimento), passando para 20 minutos, o que permitiu mais tempo para o profissional realizar a etapa de obturação e, até mesmo, fazer alguma correção, se necessário fosse, antes do cimento tomar a presa completa. O cimento permaneceu solúvel em solventes etéreos, portanto, possível de ser removido do canal radicular, caso necessário. Os resultados clínicos também se mostraram satisfatórios, parecendo que o material não provocava irritação aos tecidos perirradiculares. Esse estudo foi publicado no “Journal of the American Dental Association“.

Com base no conteúdo técnico-científico e histórico contido nesse artigo, publicado no The Journal of the American Dental Association – JADA, decidimos transcrever os requisitos que um cimento ideal deve possuir, segundo nada mais nada menos que o Prof. Dr. Louis I. Grossman, especialmente para você, nosso leitor. Aproveite a leitura!

INTRODUÇÃO

Grossman inicia esse trabalho apresentando os tipos de cimentos que eram usados até aquele momento para a obturação dos canais radiculares, sendo: os cimentos à base de fosfato de zinco, que não eram adotados pelo dentista americano, e os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, esses, sim, adotados nos EUA.

Já os materiais sólidos eram guta percha e cones de prata. Ele relata que testou outros materiais sólidos, como a combinação de guta percha à diversos tipos de ceras, parafina, ceresina (cera mineral derivada do petróleo) e agentes radiopacificadores; além de cones à base de resina acrílica (mono metil metacrilato – MMA) associados a agentes radiopacificadores, porém todos os materiais sólidos resultantes desses testes experimentais apresentaram-se insatisfatórios por não cumprirem requisitos mínimos para um material obturador de canais radiculares.

A resina acrílica autopolimerizável foi descoberta na Alemanha, em 1934 (Skinner, 1954). Para Grossman, tanto a guta percha quanto os cones de prata existentes na época não possuíam rigidez adequada para ser introduzidos nos padrões de canais radiculares curvos e estreitos. O autor acreditava que os substitutos para os cones de prata seriam cones produzidos a partir de fios de aço inoxidável, por serem mais rígidos, o que permitiria a sua inserção em qualquer canal em que uma lima de aço tivesse percorrido anteriormente.

Quanto aos cimentos, Grossman passou a preconizar o uso de um cimento que tivesse menores chances de provocar manchamento das estruturas dentais e que preenchesse, em grande parte, os requisitos esperados de um cimento obturador, principalmente a capacidade de selar o canal radicular.

OBJETIVOS DO ARTIGO

O objetivo desse trabalho foi apresentar as alterações promovidas por Grossman com o objetivo de aprimorar o cimento à base de óxido de zinco e eugenol quanto às suas propriedades físico-químicas. Além disso, Grossman também apresenta os requisitos que um cimento endodôntico ideal deve apresentar.

REQUISITOS DE UM CIMENTO OBTURADOR IDEAL

Esses requisitos estão apresentados abaixo:

  1. Deve selar o canal radicular hermeticamente.
  2. Não deve sofrer alteração volumétrica durante a presa (endurecimento).
  3. Deve aderir à superfície do canal mesmo quando alguma umidade estiver presente.
  4. Deve ser bem tolerado pelos tecidos periapicais em caso de extravasamento pelo forame apical.
  5. Deve ser de fácil manipulação quando misturado.
  6. Deve ser de fácil introdução no canal radicular.
  7. Deve dar ao operador tempo suficiente para fazer qualquer ajuste na guta percha ou no cone de prata, que possa se fazer necessário, antes da presa inicial do cimento.
  8. Deve tornar-se rígido no interior do canal radicular após a presa
  9. Não deve descolorir a estrutura dentária.
  10. Deve ter algum efeito bactericida ou bacteriostático.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, ele recomenda o pó contendo óxido de zinco, resina Staybelite, subcarbonato de bismuto, sulfato de bário e o líquido contendo eugenol e óleo de amêndoas doces. Com a retirada da prata, ele tentou diminuir a possibilidade de manchamento do dente e com a alteração na composição do cimento, ele tentou atribuir ao material maior plasticidade, adesividade, radiopacidade, além de prolongar o tempo de presa/endurecimento.

Grossman ainda propôs outras modificações à fórmula do cimentos à base de óxido de zinco e eugenol nos anos de 1962 e 1974 (Grossman, 1962; Grossman 1974). Ciente de que os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol não atendiam a todos os requisites propostos para um cimento obturador ideal, Grossman relata, nessa publicação, que também estava trabalhando no desenvolvimento de um cimento à base de resina epóxica para a obturação de canais radiculares.

Quatro anos antes a essa publicação de Grossman, na Suíça, Andre Schroeder já havia desenvolvido um cimento obturador à base de resina epóxica, o AH 26 (Schroeder, 1954).

Análise e transcrição por:

Profa. Marcela Batista Pereira de Carvalho

Profa. Marcela Batista Pereira de Carvalho

Graduada em Odontologia pela UNAERP
Especialista em Ortodontia e Endodontia, atuando também na área de Ortopedia Funcional dos Maxilares
Mestre em Ciências da Saúde, área de Saúde Bucal, pela UnB
Doutoranda em Odontologia pela UnB
Membro discente do Projeto de Extensão “Trauma Dental: Prevenção e Tratamento” do Departamento de Odontologia da Faculdade de Ciências das Saúde - FS/UnB
Exerce atividade em clínica privada nas áreas de Ortodontia, Ortopedia Funcional dos Maxilares e Endodontia

Prof. Dr. Jacy Ribeiro de Carvalho-Junior

Prof. Dr. Jacy Ribeiro de Carvalho-Junior

Graduado em Odontologia pela UNAERP
Especialista e Mestre em Endodontia pela UNAERP
Doutor em Materiais Dentários pela FOP/UNICAMP
Professor Adjunto do Departamento de Odontologia da Faculdade de Ciências das Saúde - FS/UnB
Coordenador do Estágio Supervisionado em Odontologia 2 do Departamento de Odontologia da FS/UnB
Membro docente do Projeto de Extensão “Trauma Dental: Prevenção e Tratamento” do Departamento de Odontologia da Faculdade de Ciências das Saúde - FS/UnB
Especialização em Implantodontia pela Faculdade de Odontologia da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas - FAOA - Araraquara - SP

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Prof. Manoel Machado

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  • Graduado em Odontologia pela Universidade São Francisco – Bragança Paulista – SP
  • Especialista em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Santo Amaro – OSEC
  • Mestre em Endodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – FO-USP – São Paulo – SP
  • Doutor em Endodontia pela FO-USP – São Paulo – SP
  • Livre Docente pela FO-USP – São Paulo – SP
  • Pós-doutorado pela “University of Harvard School of Dental Medicine” – EUA
  • Professor Associado 2 da disciplina de Endodontia da FO-USP – São Paulo – SP
  • Fundador e Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Endodontia – SBENDO
  • Ex-Presidente da Sociedade de Endodontia Latino Americana – SELA
  • Idealizador do Projeto Amazonas / 32
  • Autor do livros “Endodontia da biologia à técnica” – traduzido para o espanhol e distribuído por toda América Latina e parte da Europa; “Urgências em Endodontia Bases biológicas clínicas e sistêmicas”; e, “Endodoncia – Ciência y Tecnología”
  •  

Prof. Marcos Rios

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  • Graduado em Odontologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS – Feira de Santana – BA
  • Especialista em Endodontia pelo Centro Baiano de Estudos Odontológicos – CEBEO-BA – Salvador – BA
  • Mestre em Endodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic – Campinas – SP
  • Doutor em Clínicas Odontológicas pela Faculdade São Leopoldo Mandic – Campinas – SP
  • Professor Assistente de Clínica Integrada da UEFS – Feira de Santana – BA
  • Professor da disciplina de Endodontia da UniFtc – Salvador – BA e Uniruy – Salvador – BA
  • Professor dos Cursos de Atualização e Especialização em Endodontia – CEBEO-BA/CENO-BA/UNINGÁ-BA/SANTÉ-BA
  • Atuante em clínica privada, na cidade de Lauro de Freitas – BA, exclusivamente em Endodontia
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Profa. Taia Resende

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Graduada em Odontologia pela Faculdade de Odontologia do Planalto Central – FOPLAC – Brasília – DF

  • Especialista em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FOAr-UNESP – Araraquara – SP
  • Mestre em Odontologia, área de concentração: Endodontia, pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais – FO-UFMG – Belo Horizonte – MG
  • Doutora em Odontologia, área de concentração: Endodontia, pela FO-UFMG – Belo Horizonte – MG e período Sanduíche no “The Forsyth Institute” – Boston – EUA
  • Pós-Doutorado em Ciências Genômicas e Biotecnologia pela Universidade Católica de Brasília – UCB – Brasília – DF
  • Professora do Curso de Odontologia da UCB – Brasília – DF
  • Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Genômicas e Biotecnologia da UCB – Brasília – DF
  • Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – UnB – Brasília