Fonte: New York: Elsevier / Journal of Endodontics: Rankow, H. J. & Krasner, P. R. The access box: an ah-ha phenomenon. J. Endod., v. 21, n. 4, p. 212-4, 1995.
RESUMO
Em 1995, dois professores da Universidade “Temple”, na Filadélfia, EUA, o Prof. Henry J. Rankow e o Prof. Paul R. Krasner, publicaram um artigo de cunho pedagógico para o ensino de Endodontia. Nele, os autores apresentaram uma ferramenta de ensino que demonstra claramente o conceito de um adequado acesso endodôntico.
Com base nessa ferramenta de ensino apresentada pelos autores, analisamos o conteúdo do artigo publicado no Journal of Endodontics e decidimos transcrever os princípios para você, nosso leitor. Uma ótima leitura!
INTRODUÇÃO
Uma vez que conhecer os princípios de um adequado acesso é importante para a execução da terapia endodôntica, torna-se fundamental que todo estudante compreenda o conceito de acesso endodôntico em sua plenitude. Infelizmente, esse conceito geralmente é difícil para o estudante dominar. Parte dessa dificuldade está, sem dúvida, na tendência da maioria dos estudantes (e também dos cirurgiões-dentistas) de colocar a “carroça na frente dos bois” e procurar as embocaduras dos canais antes de ter removido todo o teto da câmara pulpar.
Os estudantes assumem que, quando as embocaduras dos canais são localizadas, essa parte da etapa de acesso é considerada concluída e, portanto, não precisam mais remover o remanescente de teto e nem visualizar completamente o assoalho da câmara.
Durante a graduação, o estudante aprende a ser conservador e que deve remover o mínimo possível de estrutura dentária. Isso faz com que passe a ser muito difícil para os estudantes estabelecerem a quantidade necessária de estrutura dentária a ser removida até conseguir expor a junção entre a parede e o assoalho da câmara pulpar.
Essa resistência em remover a quantidade necessária de estrutura dentária é reforçada pela imagem mental imprecisa do estudante sobre como deve ficar a forma final de contorno do acesso endodôntico em si. A maioria dos livros simplesmente recomenda a remoção de todo o teto, mas não oferece diretrizes ou pontos de referência para indicar quando o acesso está precisamente adequado.
O adequado acesso endodôntico, de fato, exige a remoção completa do teto da câmara pulpar e de todas as interferências, tanto em dentina quanto em esmalte. A única maneira de um operador ter certeza que o teto está completamente removido é quando ele/ela pode ver todas as paredes circundantes se encontrando com o assoalho da câmara pulpar, em uma vista de 360º. Se alguma parte do teto for deixada para trás, a parede nessa área ficará escondida. Se o operador não puder ver a parede se encontrar com o assoalho da câmara pulpar, então, existe a possibilidade de uma embocadura de canal estar escondida sob essa estrutura remanescente.
Assim, surge o desafio de pensar em uma estratégia de ensino que seja capaz de demonstrar, de forma consistente e definitiva, a importância da remoção completa de toda estrutura dentária que representa o teto da câmara pulpar, reiterando que um pequeno remanescente, aparentemente insignificante, do teto pode impedir a detecção da embocadura do canal radicular.
OBJETIVOS DO TRABALHO
O adequado acesso endodôntico consiste em um dos pilares da terapia endodôntica. Assim, esse artigo foi conduzido para apresentar uma ferramenta de ensino capaz de demonstrar efetivamente a estudantes e cirurgiões-dentistas o adequado conceito de acesso endodôntico.
A CAIXA DE ACESSO
Utilizando os conceitos atuais para um adequado acesso endodôntico, os autores desenvolveram uma caixa que mostraria, de forma clara e efetiva, as vantagens e desvantagens da remoção completa do teto da câmara pulpar.
A ideia da caixa foi representar a câmara pulpar (Fig. 1). As paredes da caixa estão em ângulo reto com o assoalho; e, paralelas umas com as outras. A parte superior da caixa (teto) foi criada em quatro partes para mostrar vários estágios de remoção inadequada do teto. O teto é removido em uma sequência de passos que vão expondo cada vez mais o assoalho subjacente (Figs. 2A e 2B). A cada passo, ao estudante é solicitado que identifique o número de embocaduras dos canais presentes no assoalho da caixa. Mesmo com 90% do teto removido, como visto na Fig. 3C, o estudante não consegue visualizar completamente as paredes se encontrando com o assoalho, permanecendo, portanto, com dúvida. Quando a última parte do teto é removida (Fig. 3D) e o estudante pode visualizar as paredes circundantes se encontrando com o assoalho, numa vista em 360º, além de observar como é possível identificar facilmente o número e a posição das embocaduras dos canais radiculares, ele/ela experimenta um “Fenômeno ah-ha”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A “Caixa de Acesso”, apresentada por Rankow e Krasner, parece, sim, ter condições de cumprir o papel de sedimentar o conceito do adequado acesso endodôntico na cabeça do estudante.
Por meio dela, os autores conseguem definir:
- acesso endodôntico como a remoção completa do teto da câmara pulpar e de todas as interferências, tanto em dentina quanto em esmalte; e
- que a única maneira de um operador ter certeza que o teto está completamente removido é quando ele/ela pode ver todas as paredes se encontrando com o assoalho da câmara pulpar, emu ma vista de 360º.